A PEDRA DAS ERAS
PRÓLOGO
Correndo pela mata,
Descia o menino;
Correndo pela mata,
Por entre as silhuetas florestais
Correndo pela mata,
Em direção ao vale,
rumo a sua taba;
Correndo pela mata,
Sua pele negra, em
investida passa pela vegetação;
Correndo pela mata,
Em período de pouca
chuva, folhas secas se rompem ao pisar;
Correndo pela mata,
Entre as curvas de cada
folha, o verde aos poucos se mistura ao fúlvio,
Correndo pela mata,
No corpo traz marcas de
urucum e argila, cabelo cor fogo aos ombros cacheado,
Correndo... Correndo:
Correndo.
Chega à clareira plana;
para trás ficam pegadas de quem vai, nunca de quem vem. Arco em punho, flechas
na aljava; corre feliz, pois sabe que esta na hora de ouvir. Por isso a pressa,
por isso a correria. O ancião vai começar uma história nova. O pequeno quer
chegar antes do velho iniciar o relato. Não quer perder nada, nenhum detalhe,
por isso corre... corre, corre... corre.
A cada passo um vai
ficando mais rápido que outro de forma que o coração começa a palpitar em um
ritmo acelerado acompanhado da ânsia de se estar próximo do local que culminam
na falta de fôlego.
Mas ele chega.
Adentra pela porta
fechada apenas por uma cortina de palha.
Em derredor de uma
fogueira no centro da maloca,
Já uns sentados, entre crianças
e adultos o entorno espalha.
Sinalizando o velho, a
aproximação a todos evoca.
Ainda ofegante, se
senta após se servir a boa água da talha,
Enquanto que alguém ritmicamente
o tambor toca,
O menino; coração disrítmico,
com a respiração ainda falha,
Não pela corrida, mas
pela emoção que o provoca
Cada palavra do velho
sábio, cujo o momento não atrapalha,
Devido tanto foco que a
criança ao momento invoca.
A história do
verdadeiro passado, que os próprios espíritos
De inspiração nos
trazem através dos veneráveis lábios.
Todos agora quietos
para ouvir os relatos que os eméritos
De cada geração
transmitem e que entranham aos sábios.
A maior de todas as
narrativas será contada...
Por Rafael “Pregador” Arguelles